sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Ao Cónego Aníbal João Folgado


Há pessoas que são eternas mesmo quando partem, porque deixam em vida, um rasto de eternidade. Se os recantos e as pedras pudessem falar, diriam certamente o que as palavras humanas, por serem imperfeitas e pequenas, não sabem nem podem.
Para o amor se manifestar, não basta falar nele. É necessário construi-lo, como se constrói uma casa: com dedicação e perseverança. É necessária a coragem dos homens que não se deixam vergar sob o peso da mediocridade do mundo, mas que lutam incessantemente por causas que, aos olhos dos insensatos, parecem loucas. Os homens que constroem o amor, são sábios aos olhos de Deus e loucos aos olhos do mundo. Porque o amor, não se entende sem loucura. Exige tudo de nós, exige a entrega total, sem medo, sem limites, sem condições. O amor não existe pela metade, é uma dádiva total e um arriscar sábio e confiante.
Hoje, não poderíamos deixar de recordar um desses construtores do amor. O Cónego Aníbal Folgado foi dos raros seres humanos que amou verdadeiramente e que levou a sério o amor. Teve a coragem de lutar pelo sonho mais bonito que alguém pode ter: o do serviço ao outro. Sonhou o amor e construiu-o. Passo a passo, pedra a pedra, dia a dia. Numa luta constante e desigual contra todo o mal que habita o mundo e num desprendimento total do que era seu, para que todos pudessem ser um pouco mais felizes. Sem medo, com um espírito de sacrifício e uma força de vontade acima do imaginável, ousou a aventura da entrega.
Ousou e conseguiu.
Não é fácil encontrar homens assim. Não é fácil encontrar rostos tão parecidos com o Jesus Cristo que tantos pregam mas que tão poucos vivem. O Cónego Folgado foi um rosto de Jesus que conseguiu ver Jesus no rosto do outro.  
Os que o recordam, falam na sua simplicidade. E a simplicidade apenas cabe no coração dos homens sábios. Que lugar maravilhoso seria o mundo, se o coração de todos os homens que o habitam tivesse, mais que não fosse, metade do tamanho do coração do Cónego Folgado! Que fácil seria encontrar um sentido para a vida se todos deixassem de lado o egoísmo que oprime e travassem a luta por um mundo mais justo e mais humano.
Quando um homem assim parte, fica muito mais que a saudade, muito mais que o sentimento de perda, muito mais que a tristeza pela separação. Fica sobretudo a certeza de que o amor vale a pena, e a esperança num mundo que pode ser melhor, se assim o quisermos.
A vida deste homem, ensinou-nos que é preciso lutar pelos sonhos. Que vale a pena moldar o coração ao jeito de Jesus e que a maldade jamais vence o amor. Ensinou-nos que os homens grandes não morrem, ainda que partam, e que, afinal, o essencial não é complicado. É simples como uma mão aberta ou como um sorriso fácil. Simples como uma palavra. Simples como um coração que acolhe.
Se neste Natal Jesus nascer de verdade dentro de nós, seremos certamente mais parecidos com o Cónego Folgado.
Neste Natal, há mais uma estrela no céu da nossa vida a interceder por nós junto do Pai. Saibamos guiar-nos por ela, para que a sua luz se reflicta em cada passo que dermos ao encontro do outro.
Para isso, renasce em nós Jesus!

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